quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Quase 70

Anos 60. Trago boas lembranças dessa época. Brincadeiras na calçada, conversas por cima do muro, as chuvas que alagavam a rua e a transformavam numa imensa piscina para os meninos do bairro. Havia as colheradas de fortificante, a televisão máscara negra, a vendedora da avon batendo à nossa porta.
Quando chovia, colocávamos nossos discos coloridos na vitrola e escutávamos suas histórias até sabê-las de cor. Às vezes, minha mãe saía da cozinha com pratinhos cheios de mingau de chocolate, que era comido ainda quente, deixando bolhas no céu da boca.
Depois, os anos 70. Mas esta é uma outra história.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Quase um desafio

É preciso ter coragem.
Pra levantar a mão e perguntar.
Pra começar. Pra encarar.
É preciso ter coragem pra negar.
Coragem a cada minuto,
A cada hora, a cada dia.
Este é o meu exercício.
Cotidianamente, continuamente.
É preciso ter coragem.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Quase uma história

Há 21 anos, troquei São Paulo por Campo Grande. Poucos entenderam essa opção. Faziam piadas, inventavam "kits" de sobrevivência, perguntavam pelos jacarés... Nem sei se, a princípio, entendi também. Quando vi, já estava em outra cidade, longe de tudo e de todos, recomeçando a vida. Levei muito tempo pra me acostumar com o novo ritmo. Inventava coisas pra fazer, rodava a cidade, diminuía a velocidade e mesmo assim ainda tinha o dia inteiro pela frente. Acostumada a passar horas no trânsito, tive que me acostumar... com uma vida melhor.
Viver em São Paulo nos leva a acreditar que o mundo todo deveria ser daquele jeito. Gente bonita, carros importados, roupas de grife, restaurantes da moda. Mas basta atravessar a marginal para perceber que existe um outro Brasil. Um Brasil onde as pessoas talvez não sejam tão bonitas, porém também valem a pena de serem conhecidas.
Em 20 anos, aprendi a despir preconceitos e reorganizar valores. Hoje, faço parte desse outro Brasil.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Quase andarilho, quase gari

Andei. Por dias, anos, séculos talvez. Pontes, pinguelas, riachos, cidades. Dia e noite, sol e chuva, abrigo e desamparo. Andei até não ter pés, até esquecer a função de cada membro e flutuar sobre o acostamento. Andei comendo de tudo um pouco, muito pouco. Bebendo a água da chuva, lambendo o sal das feridas, escarafunchando lixos. Andei sem rumo, sem itinerário, sem recursos, sem horário. Andei até cair no asfalto e, longe de tudo, no meio do nada, ser recolhido. Não resisti, não tentei fugir, me deixei ser carregado, limpo, esfregado, seco, alimentado. Atordoado. Amordaçado. Fiquei ali vagando pelos corredores, andando sobre os ladrilhos, sobre o piso cimentado, a terra do jardim. Agora dormir, agora acordar. Na horta, sabe plantar?, me perguntaram. Sei andar, respondi. Quando acordei já estava tudo lá: o carrinho, a pá, a vassoura. Você vai andar bastante, me disseram. Andei, varri e recolhi, puxando o carrinho pelo caminho. Andei, varri e recolhi até não ter pés, até esquecer a função de cada membro e flutuar sobre a calçada. Dia e noite, sol e chuva, abrigo e desamparo. Ruas, esquinas, carros, pessoas. Por dias, anos, séculos com certeza. Andei.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Quase desistência

Nesse jogo em que me pus - e me expus - não há caminho de volta.
Procuro um retorno e dou de cara com a tela do computador, pedindo mais.
Quase desisto.
Quase persisto.
Peço licença pra mudar de tom e prometo que amanhã tem mais.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Quase igual

Sou eu, estranha entre iguais.
Estrangeira, estridente diferença.
Estranhamente exigente,
Estrategicamente descrente.
Extra, super, outro tipo de gente?
Que nada! Sou eu, simplesmente...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Quase TPM

Porque dormi mal, atormentada por pernilongos. Porque a torrada queimou e o mamão não tinha gosto de nada. Porque chovia e o trânsito estava horrível. Porque a academia estava lotada e as pessoas, lentas. Porque tive que passar no supermercado, pela terceira vez na semana. Porque cheguei atrasada ao trabalho e a reunião já tinha começado. Porque a internet caiu a manhã inteira e o programa de e-mails travou. Porque o cliente cancelou a campanha que já estava aprovada. Porque comi mais do que devia no almoço, sem contar a sobremesa. Porque não pude tirar um soninho antes de voltar ao trabalho. Porque tomei chá de cadeira na sala de espera do fornecedor. Porque todos resolveram querer tudo para ontem. Porque o volume de papéis na minha mesa cresce a cada dia. Porque é começo do mês e meu salário já está comprometido. Porque mais um dia chegou ao fim sem eu resolver metade do que queria. Porque não tem um jantar pronto à minha espera. Porque mais uma vez esqueci de chamar o jardineiro pra cortar a grama. Porque a geladeira está vazia, apesar de todas as idas ao supermercado. Porque não há nada que preste nos 50 canais da TV a cabo. Porque o whisky acabou e eu detesto vodca. Porque, ao deitar, percebo a companhia de vários... pernilongos.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Quase descoberta

Sempre soube que existissem pássaros,
Mas só hoje parei para olhar um.
Peito amarelo, lista nos olhos, andar aos pulinhos...
Há dias vem ao meu jardim
E canta – dizem - chamando chuva.
Não sei se bem-te-vi ou sabiá,
Se macho ou fêmea, mãe ou filhote...
É só um pássaro.
Mais um, no enorme universo dos pássaros.
Mas eu parei meu olhar sobre ele
E por isso sei, agora, que pássaros existem.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Quase mudança

Menos trabalho, menos ganância, menos consumo e mais valor.
Menos cansaço, menos comida, menos briga e mais amor.
Menos disputa, menos censura, menos gelo e mais calor.
Menos fofoca, menos vaidade, menos pedra e mais flor.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Quase imperfeito

Naquele dia, no final da tarde,
preparei um uísque com água de coco,
sentei no degrau do terraço e esperei pelo pôr do sol.
O céu estava limpo, QUASE IMPERFEITO,
e a cana plantada em frente à casa balançava de um lado para o outro.
O sol desceu aos poucos, sumiu atrás da cana, o uísque pela metade.
Respirei fundo, levantei e entrei em casa,
onde o calor do dia permanecia guardado.
Na cozinha, um abrir e fechar de gavetas anunciava o preparo do jantar.
Alguém desligou o chuveiro,
as crianças apareceram na sala
com os cabelos molhados e pijamas cheirando a sol.
Dei o último gole no meu uísque.
Era bom estar ali.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Quase tudo

Entenda: queria falar do quase positivo. O quase que traduz a busca, a vontade, a motivação. Há quem só veja o quase negativo. O quase fracasso, quase cansaço, quase frustração. A estes, meu pedido de desculpas, quase ironia. Bem-vindos os quase felizes! Estamos quase lá...