quinta-feira, 29 de abril de 2010

Quase lar

(Arte de Irma Gruenholz)

É assim que me reconheço: protegida por minhas escolhas,
observando enquanto todos transitam por um mar de possibilidades.
Minhas águas calmas e quentes estão sempre prontas.
Se alguém precisar de um descanso, é só chegar.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Quase recomeço


Tudo bem, a casa está vazia e o silêncio é grande.
Mas lá fora há sempre uma planta nova,
um novo inseto que passeia pelos muros.
A cada novo dia tenho uma casa nova.
Coloquei a saudade pra dormir nas camas onde ninguém mais deita.
E deixo as janelas abertas, à espera do que está por vir.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Quase complicado

(Arte de Ravi Varghese)

Equilíbrio.
Participar sem invadir.
Argumentar sem insistir.
Ensinar sem instruir.
Dificultar sem impedir.
Tentar sem desistir.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Quase sonho

(Arte de Iri)

Dona sorte bateu à minha porta sem dizer palavra.
Entrou, comeu, bebeu e fez a festa.
Se questiono sua presença, sorri maliciosa.
- Aproveita, boba! - ela me diz. Aproveita!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Quase fatal

(Arte de Rene Gruau)


Nos passos do tango ela perdeu as pernas,
a compostura e o juízo.
E foi feliz.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Quase enganação

(Arte de Maria Eugênia)


Às vezes me visto assim, premeditadamente coerente.
Tudo combina com tudo e, principalmente, tudo esconde tudo.
O que se vê por fora nem de longe revela o turbilhão interior.
Em algum lugar dentro de mim, sapatos coloridos esperam a sua vez.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Quase igual


(Arte de Luli Penna)

Viveu muito tempo achando que era diferente. Ilusão.
Melhor que muitos, pensava. Pretensão.
Aos poucos enxergou seus limites. Revelação.
Rompeu barreiras, ganhou amigos. Salvação.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Quase saudade

(Arte de Irma Gruenholz)


Uma lembrança muito antiga, talvez a primeira:
o cheiro do feijão nos almoços da minha avó.
Sucos misturados, a especialidade do avô.
E suas mãos mágicas descascando laranjas sem quebrar a casca.
O queijo meia cura, a marmelada colombo, as balas de coco.
Depois, as tias tocavam violão
enquanto eu acompanhava o movimento
das partículas de poeira dançando nos raios de sol.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Quase outra

(Arte de Isabelle Tuchband)

Tenho uma inquilina dentro de mim,
barulhenta e espalhafatosa, como convém.
Dança largo, fala alto e abusa do batom.
Em suas festas, todos se divertem. Inclusive eu.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Quase viagem


(Arte de Maria Eugênia)

Vez ou outra, nasce em mim um desejo de maresia.
Distante do litoral, sonho com brisas que raramente encontro.
Guardo no céu da boca o sal do último mergulho.
Quando me entrego ao prazer do mar,
vestir o maiô é preliminar.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Quase raro

(Arte de Toulouse Lautrec)

Meu amor é antigo e novo também.
É certeza de conforto no final do dia.
É flor delicada, regada e adubada.
É paz. Alguém pode querer mais?

terça-feira, 13 de abril de 2010

Quase descoberta

(Arte de Iv Orlov)


Ao mudar pra longe e me afastar, eu me encontrei.
E encontrei também o melhor dos outros.
Conversas banais, papos profundos, trocas...
Hoje sei que não estou sozinha. E isso me conforta.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Quase fotografia


Dia a dia, construo uma outra imagem de mim mesma,
feita de letras, acentos, vírgulas e rimas.
Interessante maneira de me expor, sem retoques.
As palavras são as minhas rugas.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Quase por um triz

Ela não anda, desfila.
Não fala, inebria.
Não olha, cintila.
Não teme, confia.

(Arte de Rene Gruau)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Quase feliz


Há dias, assim, como hoje,
de céu azul e ar fresco,
em que tudo parece possível.
Até reconquistar sentimentos perdidos,
que sempre estiveram à espera de uma segunda chance.
(Arte de Marc Chagall)

terça-feira, 6 de abril de 2010

Quase prazer


Tinha 12, 13 anos, quando o primeiro cigarro caiu nas suas mãos.
O amargo da primeira tragada deu lugar a um doce prazer,
que alimentou durante anos, queimando maços de Carlton.
Foi um rito de passagem. Hoje é uma miragem.
(Arte de Cristian Matovani)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Quase máscara


Luto contra o desânimo,
visto minhas melhores roupas
e sigo em frente, sem deixar que me percebam.
Disfarço-me em outras por mais uma semana.
(Arte de Rene Gruau)

quinta-feira, 1 de abril de 2010


Óculos de leitura, cremes antirrugas, vitaminas.
Minha idade é revelada pelo acúmulo de caixas no criado-mudo.
Meu celular pisca luzes que não sei decifrar.
Novos aparelhos me confundem, novas bandas não acompanham meu ritmo.
Quanto mais o tempo passa, mais questiono como passo o tempo.

(Arte de Pacman)