Quase inexplicável

(Roy Lichtenstein)

A onda veio tão forte - e tão boa,
que o choro veio assim, à toa.

Quase estratégia

(Sempé)

A meta é não ter meta alguma.
O foco, é desfocar.
Mudar o plano, desconstruir o óbvio.
Transgredir, se divertir e errar.

Quase compensação

(Maria Eugênia)

Apesar da distância, do silêncio e do vazio,
devo confessar: também tenho cá meus benefícios.
Escolho o que ler, ver e ouvir, sem reclamações.
Caminho sem pressa, bebo sem culpa, escrevo sem censura.
É o lado B desse velho disco, já riscado de tanto tocar.

Quase indesejada

(Modigliani)

Sem avisar nem pedir licença, ela chega.
Enfia meu riso no bolso e joga fora todas as canções.
Queima as lâmpadas, encobre o sol e resseca as plantas.
Insistente, diz que veio pra ficar. Espero que por pouco tempo.

Quase cega

Mulher madura procura óculos-esquadro,

que mudem o ângulo de tudo o que vê,

com lentes convergentes,

para renovar a ótica de todos que mira.

Quase decepcionada

Depois de passar anos no final da fila,
finalmente chegou a minha vez.
Mas que graça tem estar aqui
sem ninguém pra dividir esse momento?

Quase perdida

(Arte de Picasso)

Com medo de se perder, foi pelo caminho mais seguro.
Não pegou atalhos, não falou com estranhos,
não parou para olhar a paisagem.
Não encontrou o que queria. Só tédio e monotonia.