segunda-feira, 31 de maio de 2010

Quase campeão


(Arte de Jeremy Dickinson)

Fanático por caminhões, decorou todos os modelos.
Durante as nossas viagens, ia, entusiasmado, narrando os que passavam:
- Caminhão baú!, gritava. Caminhão betoneira!
Trocou os caminhões pela bola e, depois do primeiro gol, não parou mais.
Até hoje é assim: não tem melhor amigo, mas torcida organizada.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Quase mil

(Arte de Lee Sutton)


Já foi minimalista, tradicional, eclética,
escandalosa, alternativa, sintética,
ousada, monocromática, frenética.
O motivo? Indefinição estética.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Quase escrava

(Arte de Dries Van Norten)

Vaidade. Uma vigília constante e sem trégua.
Vez por outra, uma conquista.
Quase sempre, uma limitação.
É o tempo tic tac mandando seu duro recado.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Quase pluma

(Arte de Henri Matisse)
A bailarina que nunca fui
desliza suave sobre o palco, sem medo de cair.
Gira, estica, encanta e hipnotiza.
É linda, a bailarina que serei um dia.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Quase lamento

(Arte de Irma Gruenholz)


Por mais que eu levante a voz e aguce a audição,
por mais que eu exercite o olhar e aflore os sentidos,
tudo é inútil. Continuo aqui, a quilômetros de distância.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Quase encharcada

(Arte de David Hockney)


Como a chuva fina que insiste em cair,
molhando primeiro os pés, depois as pernas,
e por fim cada minúsculo pedaço meu.
Assim são os meus sentimentos.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Quase convidada

(Arte de Aurelia Fronty)

De todas as mulheres que eu sou,
não vou mentir: tenho preferências.
Elegi a melhor de todas para passar o fim de semana.
Espero que as outras não se rebelem.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Quase ontem

(Arte de Iberê Camargo)

- Rapidinho!, ele diz. E dispara com sua bicicleta, sumindo na rua.
Aparece segundos depois, com um pedaço de vidro que achou no caminho.
Guarda tudo dentro de uma caixa: pedras, paus, insetos ressecados.
Tem uma ideia nova por minuto e a vida inteira pela frente.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Quase melancolia

(Arte de Sadie Patterson)

Sempre que essa sensação me invade,
penso em voltar à minha tribo.
Vestir as mesmas roupas, falar a mesma língua
e aliviar o peso da bagagem em boa companhia.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Quase livre


Na garupa de uma moto, perdi o medo e ganhei a vida.
Aprendi que o vento é maior do que o chão.
E a curva, sempre a melhor parte.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Quase nova

(Arte de Tanaudel)


Uma vida inteira pensando na imagem.
E agora, o inverso:
uma imagem partida pensando na vida.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Quase simples

(Arte de Diego Rivera)

Hoje saio pra dançar.
Escolho flores que nunca colocarei nos cabelos
e ensaio passos que ninguém vai dar.
Na minha festa, é preciso muito pouco pra ser feliz.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Quase sina

(Arte de Constanze Moll)


Muito prazer, meu nome é Culpa.
Sobrenome, Punição.
Turvo sonhos, embaço planos
e aniquilo sua satisfação.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Quase teatro

(Arte de Maria Eugênia)

No show que faço todos os dias,
às vezes drama, às vezes comédia,
sou fogo e sou vento, alegria e desespero.
À noite, exausta, junto os pedaços e vou ao encontro de mim mesma.
Amanhã tem mais.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Quase otimista

(Arte de Jillian Tamaki)

Há quem pense longe e planeje futuros.
Quem preveja desastres e trace estratégias.
Mas há também - e esse é o meu consolo,
quem saiba que basta um guarda-chuva vermelho
para se proteger até mesmo das piores tempestades.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Quase plástica

(Arte de Catherine Campbell)


Uma onda de carinho coloriu meus cabelos
e renovou minha pele.
Tenho anos a menos.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Quase normal

(Arte de Mark Demsteader)

Acordou desse jeito e sua tristeza não tinha remédio.
Naquele dia só pensou em preto e branco
e do seu papel não saiu letra nenhuma.
Desistiu de tudo, cruzou as pernas e esperou.
Um dia apreenderá a viver nessa montanha russa.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Quase pesadelo

(Arte de Yuta Onoda)


Ando sonhando com mudanças.
Abro os armários e milhares de coisas caem sobre mim,
como uma avalanche.
Soterrada por inutilidades, decido me organizar.
Encaixoto sentimentos, embalo lembranças,
jogo fora ambições antigas.
No fundo, no fundo, sei que tudo isso um dia vai me fazer falta.