quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Quase no limite


No meio da festa, exausta, não sabe se vai conseguir.
Os pés doem, os olhos ardem, a garganta só quer tossir.
Bebe um gole, traga fundo, jejua como um faquir.
Mais uma noite perdida, mais um castelo a ruir.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Quase faxina


Dispenso as inutilidades:
objetos empoeirados, vestidos apertados, rancores mofados.
Despida do que não me serve mais,
arejo a casa e afofo os sofás:
ainda há muitos capítulos à minha espera.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Quase libertação

Planos para o ano novo:
cortar a etiqueta que levo grudada ao corpo,
rasgar em mil pedaços o manual dos bons costumes
e encher meu prato de sabores proibidos.
Alguém está servido?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Quase síntese

Não sou chegada a nostalgias,
mas também não faço planos pro futuro.
O tempo me prega peças, traiçoeiro,
e me mantém correndo atrás de algo que nem sei.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Quase fugaz

A casa se encheu de cores e sons,
de novos ares e antigos sentimentos.
Depois, novamente o vazio.
E um rastro de perfume que resiste pra me maltratar.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Quase boazinha

(Iv Orlof)

Hoje coloquei vestido curto e caprichei na pose:
vim disfarçada de mulher feliz.
Peça ao garçon aquela dose dupla
e pode falar o que não me interessa: sou toda ouvidos.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Quase liquidando

(Barbara Wijnveld)

Meia dúzia de incertezas,
três quilos de melancolia,
duas malas carregadas de culpa.
Alguém quer comprar?

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Quase nunca

(Garrance Doré)

Uma voz baixa, um movimento sutil.
Um ouvido atento e uma palavra amiga.
A compreensão sem julgamento.
A acolhida sem cobrança.
A delicadeza.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Quase libertação


Abra os botões, desafivele o cinto,
solte os cabelos e desentulhe a mente.
Mais solta e leve, respire aliviada:
você está pronta pra seguir em frente!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Quase vertigem


Alguém sabe como arrancar as raízes que me prendem tanto ao chão?

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Quase engano

Olha só, ele diz, nem vai doer.
Mas dói, como sempre. Aliás, mais do que nunca.
Olha só, ele diz, eu volto já.
Mas demora, como nunca. E para sempre.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Quase patológico

Medo de bicho, medo de avião.
Medo de altura, medo do escuro e de multidão.
Medo do novo, medo de novo, pura encanação.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Quase sábado


Deixe as preocupações na geladeira por dois dias.
Junte um punhado de audácia, outro de disposição,
borrife seu melhor perfume e embrulhe em roupas novas.
Chacoalhe tudo ao ritmo de músicas e gargalhadas.
Fique de olho, não perca um minuto. Segunda-feira está logo aí.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Quase prisão


Alimenta seus medos diariamente,
com porções fartas de acomodação.
Cada vez mais segura e mais prudente,
nada de arroubos, nada de paixão.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Quase arte

Costurou as boas lembranças ao lado das dores.
Alinhavou velhos amigos e bordou novos amores.
Colocou lado a lado o vivido e o não vivido,
uniu o comum, o inesperado e o não cumprido.
Arrematou com pontos irregulares e nós invisíveis.
No lugar de retalhos, sonhos impossíveis.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Quase demais

Foi uma noite daquelas,
sem vírgula para pausas desnecessárias.
De perder o rumo e a fala, o caminho e o juízo.
De tirar o fôlego, apostar todas as fichas e agarrar todas as chances.
Sem noção. Sem proporção. Mas com ponto final.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Quase muito

Exagerada,
permitiu-se todos os excessos.
Agora tenta conter o turbilhão,
sem sucesso.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Quase verdade

(Eloisa Chavarri)
Essa fui eu, essa é ela.
Somos todas, um dia, e no outro já não somos mais.
Dormi uma, amanheci outra, mudada.
Por dentro, entretanto, ainda sou menina. Mimada?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Quase inexplicável

(Roy Lichtenstein)

A onda veio tão forte - e tão boa,
que o choro veio assim, à toa.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Quase estratégia

(Sempé)

A meta é não ter meta alguma.
O foco, é desfocar.
Mudar o plano, desconstruir o óbvio.
Transgredir, se divertir e errar.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Quase compensação


(Maria Eugênia)

Apesar da distância, do silêncio e do vazio,
devo confessar: também tenho cá meus benefícios.
Escolho o que ler, ver e ouvir, sem reclamações.
Caminho sem pressa, bebo sem culpa, escrevo sem censura.
É o lado B desse velho disco, já riscado de tanto tocar.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Quase indesejada

(Modigliani)


Sem avisar nem pedir licença, ela chega.
Enfia meu riso no bolso e joga fora todas as canções.
Queima as lâmpadas, encobre o sol e resseca as plantas.
Insistente, diz que veio pra ficar. Espero que por pouco tempo.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Quase cega


Mulher madura procura óculos-esquadro,
que mudem o ângulo de tudo o que vê,
com lentes convergentes,
para renovar a ótica de todos que mira.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Quase decepcionada

Depois de passar anos no final da fila,
finalmente chegou a minha vez.
Mas que graça tem estar aqui
sem ninguém pra dividir esse momento?

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Quase perdida

(Arte de Picasso)

Com medo de se perder, foi pelo caminho mais seguro.
Não pegou atalhos, não falou com estranhos,
não parou para olhar a paisagem.
Não encontrou o que queria. Só tédio e monotonia.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Quase reconciliação

(Arte de Guto Lacaz)

Tudo calmo. Calmo demais.
Tão calmo que me faz querer fugir
e ir atrás de coisas que nem sei.
Vamos? Eu vou na frente, você me segue.
Quem sabe a gente chega a algum lugar?

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Quase patológico


Percorre os olhos por revistas, em busca do seu estilo.
Tem muito de tudo: sandálias, bolsas, lingeries, vestidos,
mas nada lhe serve na hora que mais precisa.
Compra mais, achando que é a solução.
E quanto mais cheios seus armários ficam, mais nua ela se sente.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Quase inacabada

(Arte de Raphael Vicenzi)

Tudo o que já li, já vi, já escutei,
ecoa dentro de mim, numa obra em constante mutação.
Sem medo, deixo a coisa acontecer.
Este é o movimento que me faz querer sempre mais.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Quase indisponível


(Arte de Luli Penna)

Hoje tiro férias de mim mesma.

Esqueço as cobranças, dispenso os limites,

mando avisar que não estou.

Amanhã pode ser que eu volte. Pode ser que não.

Se nada adiantar, peço demissão.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Quase roteiro

(Arte de Maria Eugênia)

Dizem que devo me deixar levar.
Fechar os olhos e ir com a maré, aconselham.
Quando vejo, porém, já estou planejando rotas
e pesquisando caminhos,
procurando pousadas e paragens,
analisando o clima e os horários.
E mais uma vez sou a maré,
enquanto os outros se deixam levar.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Quase antídoto

(Arte de Matisse)

Hoje me caso novamente. Amanhã também.
Domingo saio em lua de mel, para casar de novo na segunda.
Terça começo a namorar, para noivar na quarta e casar na quinta.
Sem convidados, sem festa nem doces. Só alegria.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Quase duas

(Arte de Picasso)

Dilemas das manhãs geladas:
Hoje fico por aqui, penso.
Tenho que ir, argumento.
Mereço descansar, insisto.
Preciso trabalhar, concluo.
Só mais um pouquinho, tento.
Levanta rapidinho!, comando.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Quase arrependimento

(Arte de Maria Eugênia)

Penso nas festas que perdi,
seja por preguiça ou esquecimento.
Alguém terá dançado os meus passos?
Quem retribuiu o sorriso que eu não dei?
É possível recuperar o que nunca foi meu?

terça-feira, 13 de julho de 2010

Quase meta


(Arte de Tatielle)
Ela sabe quem é, e gosta do que vê.
Há tempos se despiu de qualquer insegurança
e hoje fala o que lhe dá na telha.
Mais sedutor que sua beleza é sua certeza.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Quase irresistível

(Arte de Maria Eugênia)

Quando vários sentimentos se misturam
num drink meio doce, meio amargo,
um gole só basta para embebedar.
Mas com o copo sempre cheio ali em frente,
quem resiste a outra dose?

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Quase óbvio

(Arte de Henri Matisse)

Quando descobriu que o único controle que se tem na vida é aquele movido a pilha, não deixou por menos. Trocou de roupa, penteou os cabelos e passou batom. Está pronta pra começar a se divertir.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Quase a mesma

(Arte de Hiromi Taguchi)
Sem mais, a menina aparece, como se nunca tivesse partido.
Quer vestido curto, cabelo no ombro e música pra dançar.
Sua alegria dura pouco: olha no espelho e não se reconhece.
Sai de fino, mas se mantém sempre à espreita, pronta para voltar.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Quase frustrante


Preocupada em agradar,
esqueceu dos seus sonhos, delírios e desejos
e abandonou a si mesma num canto da casa.
Perdeu o melhor da festa.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Quase livre


Não, obrigada.
Não quero silicone, musculação, corrida,
comida sem sal, cerveja sem álcool, cigarro sem nicotina.
Estou satisfeita.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Quase imprescindível

Acordar sem pressa, passear sem rumo,
comer sem culpa, conversar sem pose,
dormir sem susto, viver sem medo.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Quase necessário

(Arte de Lorenzo Mattotti)

Era uma tarde como todas as outras e, no entanto, única.
Estava tudo ali do jeito de sempre e, no entanto, mágico.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Quase impossível

Pensamentos tão rápidos que atropelam as palavras,
antecipando-se num turbilhão de ideias.
A fim de decifrar este enigma, peço chão.
Agora entendi? Penso que sim, concluo que não.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Quase irreal

(Arte de Gustavo Rosa)

Escrevo a mesma carta milhares de vezes.
Mentalmente, invento maneiras de dizer o que deve ser dito.
Secretas, as cartas ficam para sempre guardadas.
São lindas e tocantes, as palavras que nunca escrevi.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Quase boicote

Desdenha do seu talento,
desfaz de sua capacidade,
desconfia dos elogios,
despreza as oportunidades.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Quase biografia

Desde sempre estou de mudança:
de cara, de roupa, de endereço,
de humor, de estado civil, de cidade.
Mudei de filha para mãe, de nora para sogra,
de irmã para melhor amiga.
Quem disse que a gente só nasce uma vez?

terça-feira, 1 de junho de 2010

Quase ausente

Medrosa, antevejo o tombo antes da aventura.
Muito perigoso!, me diz, alarmada, uma voz interior.
Foi assim que me tornei a mais entusiasta das espectadoras.
Enquanto todos arriscam, eu não petisco.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Quase campeão


(Arte de Jeremy Dickinson)

Fanático por caminhões, decorou todos os modelos.
Durante as nossas viagens, ia, entusiasmado, narrando os que passavam:
- Caminhão baú!, gritava. Caminhão betoneira!
Trocou os caminhões pela bola e, depois do primeiro gol, não parou mais.
Até hoje é assim: não tem melhor amigo, mas torcida organizada.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Quase mil

(Arte de Lee Sutton)


Já foi minimalista, tradicional, eclética,
escandalosa, alternativa, sintética,
ousada, monocromática, frenética.
O motivo? Indefinição estética.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Quase escrava

(Arte de Dries Van Norten)

Vaidade. Uma vigília constante e sem trégua.
Vez por outra, uma conquista.
Quase sempre, uma limitação.
É o tempo tic tac mandando seu duro recado.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Quase pluma

(Arte de Henri Matisse)
A bailarina que nunca fui
desliza suave sobre o palco, sem medo de cair.
Gira, estica, encanta e hipnotiza.
É linda, a bailarina que serei um dia.